As Linhas do Destino
Ler as mãos e aí ver a sua vida ainda faz sentido? E é verdade o que dizem?
Fomos a três “consultas”, da mais credível à clássica cigana. Bem-vindo a um universo de linhas de Urano, anéis de Salomão e cinturas de Vénus.
Ilustração de Pedro Figueiral
TEXTO DE KATYA DELIMBEUF [O artigo encontra-se em PDF no site da jornalista: www.katyadelimbeuf.com]
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No século IV a.C., quando Aristóteles ensinava a arte de ler a palma das mãos a Alexandre o Grande, um dos maiores estrategos militares de sempre, a validade da quiromancia não era posta em causa. Hoje, que já não se adivinha futuro nas vísceras dos animais nem se sacrificam virgens aos deuses, ler a sina é um método em vias de extinção. Mas ainda há quem procure saber o que dizem as linhas das palmas das mãos. Propusemo-nos fazer a prova dos nove, submetendo-nos a três experiências. Procurámos no “novo Olimpo”: a internet, claro afinal, não há nada que não esteja escrito na web, o equivalente moderno das estrelas.
Foi lá que encontrámos o primeiro quirólogo (e não quiromante que ‘mancia’ remete para adivinhação e ‘logia’ para estudo, explicou-nos), José Prudêncio. E também a segunda, Olga Rodrigues cujo nome só saberíamos depois de telefonar. Para a cigana teríamos que recorrer à rua. José Prudêncio tem site, escritórios em Lisboa, Porto e Braga, pode ler-se, e currículo que baste para impressionar professor de Filosofia e Psicologia na Escola Secundária do Estoril, com mestrado em Astronomia Cultural e Astrologia da Universidade de Bath, em Inglaterra, a trabalhar num doutoramento em Astrologia Filosófica, e a lançar este mês um livro que é o estudo comparativo entre os mapas astrais de José Saramago e José Augusto França. Um telefonema marca a consulta. São 80 euros (com recibo) e uma hora, que dá direito a análise das mãos feita em conjunção com a do mapa astral e, no final, CD com a gravação da conversa.
José Prudêncio recebe-nos no seu escritório, ao lado do Colégio Moderno, no Campo Grande, impecavelmente vestido de fato e gravata, botões de punho elegantes e barba aparada. A casa é soalheira, o escritório organizado, forrado a estantes brancas cheias de livros e revistas. Na secretária repousa o computador portátil, no qual José introduz os dados do cliente, o gravador digital e, num cantinho da mesa, um pequeno Buda e uma ametista. Nada de velas, panos com estrelas nem “ambientes à Harry Potter”, como poderia sugerir a imagética do preconceito. Desde logo, desfazem-se alguns mitos: a leitura não é apenas de uma das mãos, mas das duas. As linhas não dão respostas taxativas como “quantos filhos se vai ter” nem “quantos anos se vai viver” até porque mudam ao longo da vida. Logo, não é tanto uma previsão do futuro o que se pode obter numa leitura, mas antes uma compreensão global das nossas características.
Não dei o meu nome verdadeiro nem a profissão, para não revelar informação que queria saber se Prudêncio me iria dar. Para começo de conversa, fico a saber que tenho uma “cintura de Vénus invulgarmente forte”. “Acho mesmo que nunca vi ninguém com este traço tão marcado”, sentencia José. O que significa isso? “É uma dupla linha do coração. É sinal de capacidades artísticas, ligação à comunicação e... excesso de amor. Excesso de afectos, romance, envolvimentos amorosos. Esta cintura de Vénus vai dar-lhe algum trabalho... Há tendência para várias relações afectivas. O seu lado ideal tem dificuldade em lidar com o real. Quando descobre que os seus príncipes são sapos, e não há nenhum que não seja , desilude-se.” Até aqui, tudo certo. O facto de eu ter “mãos compridas é um pouco como se estivessem viradas para o céu, mais ligadas ao etéreo”, continua. Isto traduz-se numa “grande sensibilidade e emotividade, melancolia. Passa por muitos estados de humor ao longo do dia e canaliza a sua sensibilidade para o trabalho”. Cada tiro, cada melro. Aliás, há, diz ele, uma ligação forte entre a identidade e a profissão, muito “associada à aprendizagem e à expansão de novos horizontes”. (Acerta de novo). Nas mãos, vê ainda “relações com o estrangeiro e fortes possibilidades de parcerias com outros países” (o que também confere) e “grande seriedade e sentido de responsabilidade no trabalho”. Outra coisa “rara” nas minhas palmas é “uma linha de Urano, sinal de grande capacidade intelectual. É rápida a pensar, inventiva, original, intuitiva.” (De ego reconfortado, pergunto-me se é agora que devo pedir um aumento...)
Descubro também que tenho “uma linha de Saturno forte, com hipótese de ter vários trabalhos ao mesmo tempo até três. Nunca pense na sua vida em reformar-se”, diz-me. “Não é para si. O trabalho é a sua terra, canaliza os seus pensamentos, a sua agressividade...” Fala, ainda, do meu “lado mais bélico, agressivo”. “Está a ver aqui? Se se metem consigo, levam! Há uma tendência um bocadinho explosiva em si, radical, de extremos. Às vezes, a frontalidade excessiva não a beneficia. Tem que desenvolver o seu lado diplomata, ser uma voluntarista de segundo grau”. Confere tudo, de novo. Da linha da cabeça, José Prudêncio revela que “é forte e bifurcada”, o que denota “capacidade para escrever. Muitos escritores têm este traço. Esta linha, que vai por aqui abaixo, quer dizer imaginação, fantasia, sonho... Embora também haja um certo medo, porque leva a escrita muito a sério. Há coisas que só vai escrever a seguir aos 40”, diz. Aí vem o meu romance, sorrio interiormente. Quanto à linha da vida, explica que a minha é “dupla”, o que quer dizer que o meu poder mental fortalece a minha saúde. “Força anímica e grande capacidade de concretização”. Filhos? “Não há razão nenhuma para não ter. Pode ter um, dois, três, quatro mas é difícil de ver, porque a contracepção interfere com a natureza em relação a isso”. O casamento é que deve ser levado com cautela, até porque “não tem nada que ver com o amor, tem que ver com segurança”, considera. “O casamento é a coisa mais anti-romântica que eu conheço. Se é uma romântica, nunca se case. Diria mesmo que é um erro uma pessoa casar com quem ama. Deve casar com alguém que oferece garantias”. É a estocada final para esta romântica...
Parte II: O anel de Salomão. No outro espectro desta experiência está a nossa segunda consulta, levada a cabo por Olga Rodrigues, em Massamá. Ao telefone, ela avisa que a leitura das mãos é apenas parte do tempo, sendo as cartas de tarô o complemento para perguntas mais específicas. O preço é de 25 euros, sem recibo, a duração menos de uma hora. Olga ronda os quarenta, veste um pólo cor-de-rosa e tem um aspecto informal, apesar do cabelo esticado. Recebe-nos em casa, que é também o seu ‘escritório’ há mais de três anos. Ao contrário do soalheiro apartamento de José Prudêncio, aqui está tudo às escuras. Sou encaminhada para um quarto pequeno, onde o espaço é disputado por uma cama de ferro encostada à parede, uma mesinha coberta com um pano azul escuro com estrelas (lá está o ambiente Harry Potter) e uma pequena secretária com vários objectos, entre os quais uma bola de cristal é verdade e um necéssaire cor-de-rosa, de onde sairão as cartas do tarô e a lupa para me ler as mãos. A amiga com quem Olga partilha a casa-escritório liga uma suave música ambiente e dá corda ao cronómetro, a lembrar os de cozinha, para marcar o tempo. Meia hora mais tarde, apitará, como que a avisar que o rosbife está pronto. Sob a lupa de Sherlock, Olga foca-se mais na minha mão esquerda, com a qual escrevo, e começa: “Uma infância atribulada. Muitos pretendentes alguns que lhe dão água pela barba. Aliás, vai continuar a ser pretendida a vida toda, mesmo depois de casada”, diz. “Forte intuição, como se pode ver na sua mão direita, no anel de Salomão. Chamam-lhe o ‘anel da bruxa’. Significa que tem grandes capacidades mediúnicas.” Fala-me também em “muitas viagens”. Confirmo. Olga diz que a minha linha da vida vai até aos 75, 80 anos, mas que poderei ter “um acidente ou problema grave por volta dos 55, 57.” No entanto, como “as linhas da mão esquerda mudam de seis em seis meses”, e “o livre arbítrio” entra em linha de conta, posso ter esperança de alterar isto. Quanto às linhas da cabeça e do coração, “têm muitas ilhas”, o que significa “problemas de saúde, arritmias ou possíveis ataques cardíacos...”, considera. Filhos, vê “dois, por enquanto”. Profissionalmente, tenho “muitos quadrados”, o que quer dizer “sucesso garantido em projectos em nome individual”, e que nunca me “faltará trabalho”. Oxalá! Segue-se a leitura de tarô, e uma pequena conversa a que a minha curiosidade me impele: há quantos anos lê mãos (“cerca de dez”), se a crise tem afectado o número de consultas (“não, as pessoas continuam a procurar-me quando a vida não lhes corre bem”) e quais as principais questões que as preocupam (“dinheiro. a falta dele”).
Parte III: O previsível mau olhado. Normalmente, quando pensamos numa cigana a ler a sina, a frase que nos vem à cabeça é “mau-olhado”. Fomos confirmar ou desmentir esta ideia. Na av. de Roma, cruzo-me com uma. “Lê a sina?”, pergunto. “Leio. Há muitos anos. Anda comigo e não digas nada, senão corta o efeito”, avisa. “Tens sorte, não costumo andar por esta rua. Foi Deus que me mandou para aqui”. Inquiro quanto é a leitura de mão e quanto tempo demora. Não responde a nenhuma das perguntas, mas inicia desde logo a sua interpretação. Pergunto que mão quer. “Não preciso de te ver a mão, já vi tudo no teus olhos”, retorque. Começa o “diagnóstico”: “Tens uma grande inveja em cima de ti, que te puseram duas amigas... Tens filhos? Não? Mas gostavas? Compra uma garrafa de álcool etílico, esvazia-a pela metade, acrescenta-lhe duas borrifadelas de sal fino e durante 15 dias salpica o tapete da tua entrada com isso. É para afastar os maus espíritos”, explica. “Depois, durante o mesmo tempo, diz esta oração: “Trosca marrosca, Mordaça na boca, Tira-me este mal da inveja, Que eu tenho dentro de mim, Onde elas rezem, medrem, e no inferno berrem.” Ao fim de nem 10 minutos, a ‘conta’ é-me apresentada: 60 euros, mais óculos de sol como “brinde”. Dou-lhe 30 e mesmo assim sinto-me roubada.
Não satisfeita com aquela “leitura de olhos”, rumo à rua das Murtas, ao pé do hospital Júlio de Matos, à procura de uma cigana palmista, com algum dom para lá do da aldrabice. Três homens do bairro indicam-me de imediato “uma boa mulher para ler a sina, a Ermelinda”. A Ermelinda é contactada, via telemóvel mas não está nas redondezas. Não há problema, recorre-se à mãe da Ermelinda, que também é “cinco estrelas”. Cinco minutos passados, aparece a D. Maria, uma senhora de olhos azuis, nos seus cinquentas. Faz-me sinal para me aproximar e para irmos para um sítio mais recatado. Estamos agora numa zona completamente deserta. Olha para a minha mão direita por breves segundos (não pergunta com que mão escrevo) e diz: “Já vi tudo. Tens as linhas cortadas, a do amor e do trabalho”. Agora, só por 100 euros pode “mergulhar” dentro de mim e fazer a sua parte, explica. “Só tenho 20...” Rebate que tem que “mandar vir as velas do Brasil e rezar muitas novenas durante 15 dias em Braga, no Bom Jesus”. Isto parece um filme. Será que tenho um ar assim tão ingénuo? Pergunta se existe alguém na minha vida amorosa, e sugere que se faça “um trabalho” sobre ele. “É preciso”, diz. “Traga-me uma foto dele e outra sua”. É com dificuldade que me consigo desembaraçar de marcar outro encontro para dar “o restante dinheiro”. Saio dali a pensar que, como em todas as áreas, até na quiromancia há profissionais credíveis, medianos, e simples aldrabões. As linhas cá estão, para o que der e vier. É bom saber que tenho o destino nas minhas mãos.
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Saúde Actual nº 40 | Artigo sobre Quirologia | Set/Out 2010
MÃO ESQUERDA ou MÃO DIREITA?
José Prudêncio
A Quirologia é o estudo dos dedos, dos montes, das unhas e das linhas das mãos para conhecer as características de uma pessoa e as suas tendências naturais. Este estudo abre perspectivas fascinantes para compreender os outros e a nós próprios.
As mãos constituem um mapa biológico que dá acesso imediato e intuitivo a aspectos fundamentais da natureza de uma pessoa. O estudo e a prática da Quirologia desenvolvem a intuição e a capacidade de compreender melhor os outros.
Na análise quirológica estudam-se ambas as mãos. A mão esquerda, habitualmente passiva, dá indicações sobre as nossas tendências naturais, aquilo com que nascemos. A mão direita, ou activa, indica as mudanças que ocorreram por força do processo de socialização e das experiências da vida. É importante ver quais são as mudanças entre a mão passiva e a mão activa, para avaliar de que modo a pessoa tem mudado e se isso correspondeu a uma maior ou menor harmonia em função das suas tendências de base.
Nas mãos há quatro linhas principais. A linha da Vida (1) que nasce na junção entre o indicador e o polegar e se desenvolve em direcção ao pulso, contornando a base do polegar; esta linha indica a nossa vitalidade assim como mudanças importantes. A linha da Cabeça (2), que começa aproximadamente no mesmo ponto da linha da Vida e atravessa a mão ao meio; dá indicadores sobre o tipo de inteligência e as capacidades intelectuais. A linha do Coração (3), que dá indicações sobre a vida afectiva e a expressão das emoções; começa debaixo do dedo mindinho e atravessa a mão em direcção à base do dedo médio e do indicador. A linha do Destino ou da profissão, que começa perto do pulso e se prolonga em direcção à base do dedo médio; dá indicações sobre a evolução profissional e sobre o sentimento de realização pessoal. Esta realização pessoal não se pode confundir com o sucesso pois, por exemplo, o dono de uma grande empresa pode ter uma linha do Destino fraca, indicando a sua insatisfação com o trabalho, enquanto o seu secretário pode ter uma linha forte, indicando a sua satisfação com o que faz.
Na imagem podemos ver a mão direita e a esquerda de uma pessoa com a indicação das respectivas linhas. A mão esquerda tem mais linhas, o que indica que o indivíduo tem uma multiplicidade de capacidades que não desenvolveu e que permanecem mais ou menos latentes. Isso pode indicar que o meio social de onde provém, o seu processo de socialização e as experiências de vida, não facilitaram o desenvolvimento do seu potencial.
A linha da Cabeça é mais longa na mão direita, inclinando-se para baixo, para o Monte da Lua, indicando uma grande imaginação e complexidade de pensamento. A linha tem uma bifurcação que indica uma mente simultaneamente pragmática e sonhadora, objectiva e subjectiva, dando normalmente capacidade para escrever.
Também os dedos, o seu tamanho e inclinação dão indicações importantes. Na imagem o anelar é maior do que o indicador em ambas as mãos, isso indica que a pessoa dá mais importância à sua sensibilidade profunda do que às suas aspirações sociais. Indica subjectividade, tendências mais idealistas, reserva e alguma dificuldade em lutar por aquilo que deseja. Vê-se que na mão esquerda o dedo médio está mais inclinado para o anelar, o que indica tendências depressivas que não aparecem na mão direita, indicando que as exigências da vida obrigaram a pessoa a tornar-se mais pragmática.
Esse indicador já estava também na linha do Coração, que é mais irregular e com mais ilhas na mão esquerda, indicando que a vida afectiva tendia naturalmente a ser complicada, com rupturas e instabilidade. O facto de na mão direita a linha ser mais simples e estar mais inclinada para cima mostra que a pessoa adquiriu uma maior estabilidade emocional, ainda que à custa de perder alguma da sua criatividade.
Todas as linhas que atravessam ou sobem a partir da linha da Vida são importantes. No caso de cruzarem essa linha indicam obstáculos e fases de dificuldades na idade correspondente. Na imagem nota-se que por volta dos 38 anos há ao mesmo tempo uma linha ascendente que sai da linha da Vida, que indica sucesso e realização profissional, e uma linha que a cruza, indicando um período de dificuldades e adversidade pessoais. Nota-se também uma linha de sucesso linha de Júpiter que nasce da linha da Vida e se dirige para a base do dedo indicador. Isto é um sinal de que a pessoa ao longo da vida se esforça por ter sucesso e tem sempre uma certa dose de boa sorte a protegê-la. A separação entre a linha da Vida e a linha da Cabeça indica alguém independente e algo original, que precisa do seu próprio espaço e que gosta de viver à sua maneira.
As grandes diferenças entre as linhas e os dedos da mão esquerda e da mão direita indicam, como referido, que através das experiências da vida a pessoa modificou as suas tendências naturais. Essa modificação pode ter sido no sentido de uma maior adaptação e bom uso das capacidades prévias ou o contrário. No caso de ter mudado para pior isso pode ser resultado da sua preguiça ou dos maus hábitos que adquiriu. Na doutrina cristã a preguiça é um pecado capital porque é geradora de outros vícios; mas quando as capacidades existem, ainda que adormecidas, há a possibilidade da pessoa numa consulta de orientação tomar consciência do seu potencial e recuperar os seus poderes.
Num Curso de Quirologia como aquele que dou (ver em www.joseprudencio.com), cada participante aprende a observar as mãos como um todo, a analisar as unhas, os dedos, os montes, as linhas principais e os indicadores de influências. Há também áreas específicas das mãos que dão indicações sobre a vida amorosa e emocional, sobre a saúde e a energia vital, sobre o tipo de inteligência, sobre a carreira e anos em que podem acontecer importantes avanços profissionais. Também se podem identificar nas mãos acontecimentos potenciais e o seu tempo provável. Ainda assim, as linhas e os outros sinais da mão alteram-se com relativa rapidez, especialmente na mão direita. Por exemplo, um indicador de doença numa determinada idade por melhorar e quase desaparecer em virtude de uma mudança de hábitos. Significa que uma doença grave, que nalguns casos poderia levar à morte, pode vir a ser muito menos difícil.
Artigo publicado na revista Saúde Actual nº 40 | Set/Out 2010
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